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Lisboa, Portugal
Situado no centro histórico de Lisboa, o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, fundado em 1911, foi inteiramente reconstruído em 1994, sob projecto do arquitecto francês Jean-Michel Willmotte. A colecção de arte portuguesa, de 1850 à actualidade, constitui a mais importante colecção nacional de arte contemporânea. O programa de exposições temporárias, de particular relevância, ocupando totalmente o espaço de exposição, é alternado entre a colecção do museu e exposições internacionais. Incidindo sobre artistas e movimentos representados na colecção, propondo revisões e novas pistas de investigação sobre as matérias tratadas, o MNAC apresenta exposições internacionais relevantes que se cruzam com a própria colecção do museu, dando a conhecer obras e artistas contemporâneos internacionais.

terça-feira, 20 de maio de 2008

História do Museu / Museum history

Introdução

O Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado foi fundado por decreto da República em 26 de Maio de 1911. Nasce assim da divisão do antigo Museu Nacional de Belas-Artes em Museu Nacional de Arte Antiga, que herdou daquele as obras realizadas até 1850 e continuou instalado no Palácio das Janelas Verdes, e em Museu Nacional de Arte Contemporânea, constituído por todas as obras posteriores a esta data, tendo sido instalado no Convento de S. Francisco, num espaço vizinho da Academia de Belas Artes. Ao organizar-se uma rede museológica, articulada ao longo do país, cumpria-se um projecto de modernidade desenvolvido pelo ideário oitocentista de livre esclarecimento dos cidadãos, dotando o país com os instrumentos necessários à salvaguarda e revelação da arte nacional. Inédita e pioneira, no contexto internacional, terá sido a criação de um museu de arte contemporânea.
A instalação, ainda que a título provisório, do Museu Nacional de Arte Contemporânea no Convento de S. Francisco vinha simbólica e oportunamente situá-lo na zona frequentada pelas tertúlias das gerações representadas no museu. Ocupava os antigos salões onde as exposições dos românticos e naturalistas haviam tido lugar, em espaços anexos ao convento.

1911
O primeiro director, o pintor Carlos Reis, teve uma actuação discreta. A sua nomeação vinha inesperadamente consolidar uma opção conservadora em relação aos jovens artistas radicados em Paris. O museu ocupava então três salas do actual espaço e a sua entrada fazia-se pela Academia de Belas-Artes. Em 1914, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro assumiu a direcção dando continuidade e amplo desenvolvimento à linha tradicionalista anteriormente iniciada, resistindo às manifestações de desagrado que a geração modernista então sediada na Brasileira do Chiado exprimia. Durante a sua direcção, até 1929, o museu foi ampliado em mais algumas salas, sendo uma delas dedicada à escultura. Foi o pintor Adriano de Sousa Lopes, indicado por Columbano como o único, de entre as jovens gerações, capaz de lhe suceder, a dar continuidade ao seu projecto e introduzir moderadamente algumas situações modernas que ele mesmo não poderia aceitar. Até 1944 Sousa Lopes revelar-se-ia um director mais ousado do que seria previsível. É neste período que finalmente a geração modernista começa a ter entrada nas colecções do museu e que são adquiridas importantes esculturas de Rodin, Bourdelle e Joseph Bernard. Também neste período o museu cresceu incorporando o contíguo atelier de Columbano Bordalo Pinheiro na Escola de Belas-Artes, abrindo assim uma nova sala dedicada ao pintor.

1945
Será o escultor Diogo Macedo que, como director, depois de profundas obras de remodelação de estrutura e interiores, em 1945, abre diariamente o museu ao público, com entrada independente pela Rua Serpa Pinto. Tendo sido um participante no movimento modernista e posteriormente um historiador de arte, seria de esperar uma nova atitude na direcção. Um programa de exposições temporárias é posto em marcha, bem como investigações sobre artistas representativos da colecção através de pequenas monografias que o museu edita. Todavia uma clara definição de opções modernistas não é assumida, mantendo-se um compromisso pernicioso com o tardo-naturalismo descontextualizado do seu tempo. Alguns artistas revelados na segunda metade da década de 1940 vêm algumas das suas obras adquiridas, ainda que de forma pouco esclarecida e sem programa específico. Assim, até 1959, o museu apresentava um perfil desactualizado e conservador pouco comum a outros museus espalhados pela Europa. A nomeação política do pintor Eduardo Malta, nesse ano, apesar dos protestos generalizados por parte da comunidade de artistas plásticos e críticos, veio, contudo, repor um modelo passadista que se revelaria catastrófico para as opções modernistas das colecções e o respectivo acerto, necessário, com a situação internacional. Um catálogo foi ainda realizado mas os fundamentos nazis, onde os critérios de apresentação da colecção se alicerçavam, impuseram a sua censura por parte das autoridades do próprio regime político que nomeara este mesmo director. Em 1970, Maria de Lourdes Bártholo, conservadora de formação, foi nomeada directora do museu, que se encontrava em avançado estado de degradação. Durante os 17 anos seguintes o edifício sofreu apenas algumas obras de arranjo muito superficiais. As colecções prolongaram-se até à contemporaneidade sem que os critérios de representatividade dos diversos movimentos, tendências e individualidades da arte portuguesa, que a partir da década anterior haviam sofrido profundas transformações quantitativas e qualitativas, fossem minimamente equacionados e as aquisições definissem um entendimento consistente e porventura amplo da contemporaneidade.

1994
Com o incêndio do Chiado, em Agosto de 1988, ainda que o fogo não tenha atingido o museu, as obras de arte foram retiradas como medida cautelar. Decidiu a então Secretaria de Estado da Cultura, Teresa Gouveia, que o destino das instalações deveria ser repensado. O governo francês ofereceu um projecto de renovação dos espaços da autoria do arquitecto Jean-Michel Wilmotte que, com uma equipa dirigida pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, redefiniu o museu tal como se apresenta desde a sua reinauguração em 12 de Julho de 1994.
O projecto arquitectónico procurou integrar os espaços existentes de relevância histórica com uma linguagem neomoderna, valorizadora da autonomia dos planos que constituem as passagens suspensas, o próprio chão e os tectos ou as súbitas paredes que definem grandes verticalidades. Com uma original e económica paleta de materiais e cor, a sua sobriedade discreta dialoga plenamente com as funções do edifício.
Quando o museu reabriu um catálogo intitulado Museu do Chiado, Arte Portuguesa 1850-1950, da autoria de Pedro Lapa, Raquel Henriques da Silva e Maria de Aires Silveira, apresentava os núcleos mais consistentes e coerentes da extensa colecção, superior a duas mil espécies, com estudos individualizados de cada obra, bem como as respectivas bibliografia e historial. Dada a ineficácia do acervo em representar condignamente a segunda metade do século XX, a atenção da política de aquisições centrou-se nas obras seminais dos movimentos desse período. Um programa de exposições temporárias sistemático e organizado em torno dos artistas nacionais revelados nas décadas menos bem representadas na colecção foi posto em prática a par de uma grande ênfase nos estudos e investigações apresentados nos respectivos catálogos. Um programa de arte contemporânea dirigido aos artistas em fase de revelação, que realizaram os seus trabalhos a partir de interpretações da colecção do museu, foi activado e permitiu a aquisição de variadas obras que iniciaram uma actualização da colecção relativamente à contemporaneidade. Desde a reabertura a insuficiência de espaço, quer para a colecção, quer para as exposições temporárias foi um facto notório.

1998
Em final de 1998 Pedro Lapa, que integrara a equipa de reorganização do museu, assumiu a sua direcção. O programa de exposições temporárias ganhou maior destaque e passou a articular-se em quatro áreas específicas, directa ou indirectamente relacionadas com o âmbito cronológico da colecção. Assim deu-se início a um conjunto de exposições de carácter retrospectivo sobre artistas portugueses do século XIX; foram também continuadas as grandes retrospectivas de movimentos ou artistas modernistas portugueses, tendo sido realizado o primeiro catálogo raisonné sobre um artista português, Joaquim Rodrigo; paralelamente os nomes e movimentos que formaram as vanguardas históricas foram objecto de exposições amplas em co-produção com outros prestigiados museus internacionais; o programa Interferências (1998-2002) corria paralelamente às referidas exposições e apresentava trabalhos especificamente produzidos para o efeito por artistas contemporâneos nacionais e internacionais. Outro aspecto a que este programa dava especial relevância era a natureza das publicações que acompanhavam as exposições e que apresentavam um profundo desenvolvimento científico e ensaístico.
A política de aquisições tem-se desenvolvido em dois sentidos de forma a colmatar as referidas lacunas da colecção, sendo que as décadas de 1950 e 1960 encontram já muito significativas representações, bem como a década de 1990. Foi também dado início à integração na colecção de outros géneros artísticos, como sejam a fotografia e o vídeo, que constituem suportes de grande recorrência nas práticas artísticas contemporâneas. Para este efeito em muito contribuíram as participações de alguns mecenas mais empenhados neste processo de devolver ao Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado a propriedade da sua designação.
A ausência de espaço tem-se revelado como um dos factores mais constrangedores de toda a diversidade de actividades que o museu procura desenvolver, seja a possibilidade de apresentar com carácter de continuidade as suas colecções, seja a de desenvolver exposições temporárias com a escala desejada ou ainda actividades pedagógicas, todas estas dimensões da actividade museográfica encontram limitações cuja resolução tem tardado.

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Introduction

The National Museum of Contemporary Art - Museu do Chiado was established by government decree on 26th May 1911. It was born out of the division of the old Museu Nacional de Belas-Artes into the Museu Nacional de Arte Antiga, which inherited from the former all the works produced prior to 1850 and remained in the Palácio das Janelas Verdes, and the National Museum of Contemporary Art, which included all the works completed after that date and was housed in the Convento de S. Francisco, in an area neighbouring the Academia de Belas Artes. The creation of a network of museums, which spread the length of the country, was the fulfilment of a project based on the 18th century concept of human enlightenment, endowing the country with the necessary tools to safeguard and display the nation’s art. The creation of a museum of contemporary art was, in the international context, new and unprecedented.
The housing, though only on a temporary basis, of the National Museum of Contemporary Art in the Convento de S. Francisco located it symbolically and opportunely in the area frequented by the artists of the periods represented in the museum. It occupied the large old halls, convent annexes, where the exhibitions of the Romantics and the naturalists had been held.

1911
The performance of the museum’s first director, the painter Carlos Reis, was low-key. His appointment represented an unexpected triumph for the conservative lobby, to the detriment of the young artists established in Paris. The museum at the time occupied three of its present rooms, and it was entered via the Academia de Belas-Artes. In 1914, the painter Columbano Bordalo Pinheiro became director, continuing and fully developing the traditionalist approach previously adopted, and resisting the shows of displeasure vented by the modernists then centred on the Café Brasileira in Chiado. During his time as director (1914-1929), the museum was expanded to fill several more rooms, one of which was dedicated to sculpture. The painter Adriano de Sousa Lopes, deemed by Columbano the sole artist from amongst the younger generation fit to succeed him, gave continuity to his project and introduced, moderately, some modern elements that he himself was unable to accept. Until 1944, Sousa Lopes would prove to be a bolder director than expected. It was during this period that the modernists finally began to make inroads into the museum’s collections and that important sculptures by Rodin, Bourdelle and Joseph Bernard were acquired. Also during this period, the museum grew, incorporating Columbano Bordalo Pinheiro’s adjacent atelier at the Escola de Belas-Artes, opening thus a new room dedicated to the painter.

1945
It was the sculptor Diogo Macedo who, as director, after extensive remodelling of the structure and interior, opened the museum daily to the public in 1945, with its own entrance in Rua Serpa Pinto. Having been involved in the modernist movement and then later an art historian, his appointment was expected to usher in a new era at the museum. A programme of temporary exhibitions was implemented, as well as research on artists represented in the collection in the form of short monographs published by the museum. However, no clear definition of a modernist stance was forthcoming, and the pernicious commitment to late-naturalism decontextualised from its time was continued. Some works by artists that emerged in the latter half of the 1940s were acquired, though in an unclear and unplanned fashion. Thus, up until 1959, the museum was outdated and conservative and had little in common with other museums across Europe. The political appointment of the painter Eduardo Malta in that same year, despite general protests by the art community and critics, nevertheless placed further emphasis on a backward-looking approach that had catastrophic consequences for the collection’s modernist position and its respective and necessary adjustment to the international art scene. A catalogue was produced, but the nazi principles on which the collection’s presentation lay was heavily condemned by the leaders of the very regime that had appointed the director in the first place. In 1970, Maria de Lourdes Bártholo, a conservative by training, was appointed director of the museum, which was in an advanced state of disrepair. Over the following 17 years, the building only underwent some very superficial restoration work. The collection extended up to the contemporary era, but the criteria governing representation of the diverse movements, trends and leading figures in Portuguese art, which from the preceding decade onwards had undergone profound quantitative and qualitative transformations, were not in the least equated and neither did the museum’s acquisitions define a consistent and broad understanding of contemporaneity.

1994
With the Chiado fire in August 1988, and even though the museum escaped unscathed, the works of art were removed as a precautionary measure. It was decided by the then secretary of State for Culture, Teresa Gouveia, that the collection’s home should be rethought. The French government put forward a project to renovate the museum by the architect Jean-Michel Wilmotte, who, with a team led by the art historian Raquel Henriques da Silva, redefined the museum in the form it has exhibited since its re-inauguration on 12th July 1994.
The project sought to integrate the building’s existing historically important spaces into a neo-modern architectural language, enhancing the autonomy of the planes that constitute the suspended walkways, the floor itself and the ceilings and the sudden walls that define great vertical extensions. With an original and economic range of materials and colours, its discreet austerity establishes a full dialogue with the building’s functions.
When the museum reopened, a catalogue entitled Museu do Chiado, Arte Portuguesa 1850-1950, produced by Pedro Lapa, Raquel Henriques da Silva and Maria de Aires Silveira, presented the most consistent and coherent nuclei of its extensive collection, over two thousand items, with individual studies on each work, as well as respective bibliographies and historical backgrounds. Given the collection’s failings with regard to its representation of art from the latter half of the twentieth century, the museum’s acquisitions policy focused on the seminal works of the movements of that period. A systematic programme of temporary exhibitions on Portuguese artists that had emerged during the least well represented decades in the collection was put into place, alongside a strong emphasis on the studies and research presented in the respective catalogues. A programme of contemporary art aimed at emerging artists, whose work was based on interpretations of the museum’s collection, was set up and allowed the acquisition of varied works that initiated an updating of the collection’s body of contemporary art. Since the reopening, the museum’s lack of space, both for the collection and the temporary exhibitions, has become notorious.

1998
At the end of 1998, Pedro Lapa, a member of the museum’s reorganisational team, became director. The programme of temporary exhibitions took on greater importance and the focus moved to four specific areas, directly or indirectly related to the chronological scope of the collection. Thus was begun a series of retrospective exhibitions on 19th century Portuguese artists. Continued were the museum’s large retrospectives on Portuguese modernist movements and artists, with the first catalogue raisoneé on a Portuguese artist, Joaquim Rodrigo. In parallel, large exhibitions on the artists and movements at the historical forefront were co-produced with other prestigious international museums. The Interferências (1998-2002) programme ran parallel to the above exhibitions and presented work specifically produced for it by contemporary Portuguese and international artists. Another aspect to which this programme gave particular importance was the format of the publications that accompanied the exhibitions and that presented in-depth scientific and essayistic analysis.
The acquisitions policy has been developed along two lines in order to mitigate the shortcomings referred to in the collection, and the 1950s and 1960s, as well as the 1990s, are now already significantly well represented. A start was also made at incorporating other artistic genres into the collection, such as photography and video, media which are heavily exploited in contemporary art. Several of the museum’s custodians more actively involved in giving the National Museum of Contemporary Art - Museu do Chiado the resources its title would suggest have greatly contributed to this process.
The lack of space has been one of the factors that has most hampered the implementation of the wide range of activities that the museum has sought to develop. The chance to exhibit its collections in a continuous manner, or to develop temporary exhibitions of the scale desired, or even develop pedagogic activities, all these aspects of a museum’s activity are subject to limitations for which a solution is long overdue.

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